Atleta deficiente quer competir nas Olimpíadas e causa polêmica

01/01/2007 00:28

 

Atleta deficiente quer competir nas Olimpíadas e causa polêmica

Autoridades avaliam se as próteses dariam vantagem ao velocista Oscar Pistorius. 
Os resultados dele valeriam medalhas de ouro em corridas femininas de Atenas.

 

 

Enquanto Oscar Pistorius, da África do Sul, agachava-se para se posicionar nos blocos de partida para os 200 metros, a pequena multidão prendia a atenção no velocista que se autodenomina o homem mais rápido sem pernas. 

 

Ele quer ser o primeiro corredor amputado a competir nas Olimpíadas. E está fazendo com que representantes internacionais do atletismo analisem se a tecnologia das próteses daria a ele uma vantagem injusta sobre os velocistas que correm com as pernas naturais.

 

 

Foto: New York Times
Sem as duas pernas, Oscar Pistorius quer competir em Pequim. As marcas do atleta deficiente valeriam medalha de ouro nas provas femininas de antigas Olimpíadas (Foto: The New York Times)

Seus primeiros passos no domingo foram instáveis, uma adaptação necessária para a corrida sobre um par de lâminas em formato de "j" feitas de fibra de carbono e conhecidas como Chitas. Pistorius nasceu sem um osso chamado fíbula que fica na parte inferior das pernas, além de apresentar outros defeitos nos pés. Teve de amputar ambas as pernas na altura do joelho quando tinha 11 meses de idade. Aos 20, como diz seu técnico, ele é como um motor de cinco velocidades sem redução de marcha.

 

Pistorius é também um talento neutralizador e começou a apagar as linhas que dividem os deficientes dos não deficientes, provocando profundas dúvidas filosóficas: que aparência se espera de um atleta? Onde devem ser colocados os limites da tecnologia para equilibrar o jogo limpo com o direito de competir? A natureza dos esportes mudaria se os atletas que usam membros artificiais pudessem em algum momento correr mais rápido ou saltar mais alto do que os melhores atletas que usam membros naturais?

 

Em velocidade máxima no domingo, Pistorius venceu com maestria os 100 e 200 metros aqui nas Paraolimpíadas, uma competição internacional para atletas deficientes. Uma tarde gelada e chuvosa serviu de cenário para suas apresentações, mas suas vitórias são irrefutáveis e o ajudaram a manter o foco nas Olimpíadas de Pequim de 2008, embora o órgão mundial que rege o atletismo esteja tentando impedi-lo. 

 

Desde março Pistorius registrou recordes impressionantes para atletas deficientes nos 100 metros (10,91 segundos), 200 metros (21,58 segundos) e 400 metros (46,34 segundos). Esses tempos ainda não satisfazem os padrões de qualificação para as Olimpíadas para homens, mas ainda faltam 15 meses para os jogos de Pequim.

 

Pistorius já é rápido o suficiente para que suas marcas tivessem valido medalhas de ouro em corridas femininas equivalentes nas Olimpíadas de Atenas de 2004. O tempo de Pistorius de 46,56 segundos nos 400 rendeu um impressionante segundo lugar em março contra corredores não deficientes nos campeonatos nacionais sul-africanos. Isso, ao que parece, o torna um candidato para o revezamento olímpico 4 x 400-metros, caso a África do Sul se qualifique como uma das 16 equipes mais rápidas do mundo. 

 

"Não me vejo como um deficiente", disse o loiro de cabelos espetados Pistorius, ex-jogador de rúgbi e pólo aquático que se recusa até a estacionar em vagas reservadas para deficientes. "Não há nada que os atletas normais façam que eu não possa fazer".